4 de out. de 2009

morgana ready-made



(Lygia Pape, Ttéia, 2002. Obra que arrepiou os cabelos do povo na Bienal de Veneza. É Brasil-sil-sil rs)

Acho tão lindo quando as pessoas acreditam em magia, porque daí eu me sinto menos boba de acreditar, de colocar o nome de um desafeto no freezer e "congelar a pessoa", de suspirar pra mim mesma um segredo na hora de dormir esperando que aquele ritual faça ele virar realidade, de queimar foto de ex-namorado e tomar banho de sal grosso. O Jorge Coli hoje na folha fez esse paralelo arte/magia. Ele relacionou magia com a coisa de "acreditar" na obra, a partir do momento em que se acredita operam-se mudanças de visao etc. É isso mesmo. É um nome no freezer, uma foto que você põe fogo pra ver se assim some a dor. A obra existe pra quem acredita, dependendo de quem acredita (um crítico, um comprador) ela vale mais ou menos, tem poderes invisíveis desligados de religiões. É a aura de paganismo que não abandona a arte. Porque, normalmente, quem gosta tem aquele pézinho no terreiro. E vamos diferenciar quem gosta de quem apenas se beneficia, já vi críticos que não sentem nada, só analisam. Seria péssima crítica, só sei ser sentimento com as obras.
Uma obra tem o significado da carta de tarot (a pessoa que vos fala tira tarot), onde vemos as cores, posições dos personagens e existem significados que vão sendo desvelados, vamos cortando véus espessos de "realidade" pra chegar na simbologia que existe naquela situação, com aquela determinada carta, é tudo muito instintivo, exige sensibilidade ao mesmo tempo que exige aquele conhecimento prévio. É a Pont Neuf encapada do Christo e da Jeanne-Claude. A ponte tem o significado de passagem de fases, possuir essa passagem, embrulhar ela como um presente, como um pacote que pode ser entregado, tem lá o seu significado, foi o que ele fez pra comemorar sua cidadania francesa. Eu fico toda arrepiada com essas coisas, mas pra quem não curte é só "uma loucurinha de artista".
E isso já fez muita gente rígida e cheia de razão duvirar da minha capacidade intelectual, ainda faz muitos professores torcerem o nariz e muitas tias velhas me tratarem como adolescente que não faz ideia do que é a vida. Já levei muita bronca, muito pito por ser "leviana": "isso aí é decoração, não serve pra nada", "tarot é idiotice".
No fundo continuo achando muito lindo, com essa palavra bem leviana mesmo "lin-do", tomar esses pitos e saber que existe o "Nós" e o "Eles". Eles não acreditam, logo, o segredo é Nosso. O que a gente vive, por ser acreditado e inventado não pode ser sentido passivamente. "Eles" talvez nunca vão sentir isso como a gente, precisam de mais pra sentirem prazer, mais dinheiro, mais bebida, mais comida, mais conquistas amorosas. O prazer deles é factual enquanto o nosso pode ser inventado.
Eles precisam de dinheiro e de certeza e a gente de piada e de sal grosso.

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